|
CARTA
DE GIOBBATISTA ENVIADA AO SEU IRMÃO QUE
FICOU NA ITÁLIA – 13/03/1878 (tradução
livre) “Após
nossa partida de Genova, (12/12/1877), vos escrevi a 17, de Gibraltar.
Agora vos noticio o resto da viagem. Nosso Vapor (ESTER), navegou tranqüilo
(pelo Atlântico) até 23 de dezembro. Quando as 16:30 horas, estando
nos jantando no convés, ouviu-se o alarme: “fogo!”. Pânico geral.
Gritos, choro, preces. Mas era somente um fogacho na mangueira dos bois
por abater. O Natal foi sereno, mas no dia seguinte irrompeu fortíssima
borrasca, de trinta e mais horas. A travessia da linha do Equador em
final de ano acompanhada de forte calor, mas suportável. Após trinta
dias, em bela manhã de 11 de janeiro de 1878, vimos as montanhas do
Rio. “Viva a América!”. Tinham nascido três crianças e falecido
sete passageiros. Mas graças ao céu, minha família sobreviveu em
perfeita saúde. Navegamos então para Santa Catarina – Rio Grande –
Porto Alegre, e finalmente após 42 dias sobre as águas desembarcamos
em Rio Pardo. Seis dias depois, continuou a viagem em carretas de bois,
com bagagens, mulheres e crianças, enquanto os demais caminhavam a pé.
Atravessamos bosques, pradarias e florestas, dormindo em tendas e nos
alimentando ao ar livre. Para isso esfolavam uma rês por dia, com sopa
e pão suficientes e café a vontade. Esta caminhada durou 15 dias para
terminar “onde se via somente floresta e céu”. Ali curtimos
desesperada solidão, pois não se sabia o que fazer. Eu porém com três
conterrâneos buscamos, a seis horas de distância, além de Santa
Maria, terras de particulares para comprar. Depois de vários dias de
buscas, por serem muito caras, conseguimos uma área duas léguas além
da cidade, no Campestre, ao correr da estrada que sobe a São Martinho,
que para percorrer em seus limites, se leva um dia, abrangendo
pradarias, bosques e campo; com duas casas dentro dum pomar, suficientes
para quatro famílias. Entrou no negócio uma vaca, um cavalo, oito suínos,
vinte bois, além de calculadas quarenta arrobas de batatas, dez de
arroz, quatorze de mandioca (esta é uma cultura que se faz farinha boa
para comer), mais cento e cinqüenta galinhas e certamente a colheita em
abril de 16 sacas de milho, além de bela quantia de parreiras... “in
fatti non manca nulla!”. Tudo por cinco mil francos. “È
stato un colpo de fortuna”. Damos de entrada, três mil
francos, ficando o saldo a juro de 12% ao ano. A área corresponde a
mais de mil “campi”, que adquirimos em sociedade e dividiremos,
oportunamente em quatro partes. É tanta a terra, que nem nós e nem
nossos filhos conseguirão cultivá-la. Tem bom clima e água potável
pertinho de casa. Se ficássemos na dependência do governo, tocaria
abrir estrada do Barracão ao lote, nele erguer um rancho. Assim mesmo o
diretor nos adiantou os quarenta florins, como se tivéssemos construído.
Durante dez dias da chegada recebemos um subsídio, mas se não tivéssemos
feito a compra, seríamos obrigados a 15 dias de trabalho para o
Governo, recebendo o salário de 1$500 réis diários. Com esse valor
deveríamos sobreviver um mês. É certo que no primeiro ano teremos
dificuldades, mas com a colheita que vai acontecer, tudo irá melhorar. Aqui
a moeda é de cobre e de metal semelhante à prata. Existem as de ouro,
de prata e papel que chamam de “Réis”. Mil réis equivale a um
“fiorin”. Toda a subsistência
é bastante mais cara que na Itália, menos a carne a 40 centésimos
o quilo. Teríamos
tanto para escrever, mas estou cansado. No entanto, contentíssimo de
ter feito a compra. “Al
meno, doppo morto, i miei figli hanno dove stare e lavorare sul suo”.
|
Copyrigth
© Projeto de Extensão Melhor visualizada em: 800x600 pixels - 16 milhões de cores
|