Quarta Colônia de Imigração Italiana

Causas da Imigração

 

Algumas causas que levaram a evasão de milhares de pessoas a partir de 1874 em diante, para o “Novo Mundo das Américas Norte e Sul e também para o Continente Australiano”

 

Unificação da Itália

“As lutas pela unificação da Itália acenavam com nova ordem social e agrária. Mas as longas guerrilhas carbonário-mazzini-garibaldinas, culminaram no Reino da Casa de Savóia, que a curto prazo, pelo menos, não traria reformas na estrutura secular-medieval”.

 

Prejuízos constantes na agricultura

“As estações sucediam-se como sempre: um ano bom, com colheitas fartas e satisfatórias e em dois ou três, tudo correndo mal; pouco trabalho e em conseqüência disto, em vez de lucros, dívidas e dificuldades por toda a parte”.

 

Densidade populacional

“Em verdade: que adiantava a fertilidade da terra, se havia domicílios em que habitavam, debaixo do mesmo teto, momo sardinhas em lata, 6 ou 7 famílias, num total de 40, 50,60 e mais indivíduos?”

 

Ä Exploração dos serviços

Os proprietários das terras eram quase sempre os barões e condes. Viviam em castelos e palácios, servidos por criados. Além  de explorarem o trabalho dos seus vassalos, abusavam sexualmente das mulheres, dando origem a “roda dos expostos”. Os “contadini” procuravam aliviar a situação trabalhando em minas na Alemanha e na França, mas era uma solução passageira e incompleta.

 

 

 

As influências na decisão de imigrar

 

Agentes de imigração ð “... pintavam a imigração como o passaporte para o céu”. Eram financiados pelo governo, mas não eram controlados por ele.

 

Párocos do interior ð “piovan”  eram os conselheiros, em geral “abençoavam” os que partiam, e muitas vezes seguiam seus paroquianos.

 

Contrários à imigração ð proprietários de terras e empresários (perdiam a mão de obra que exploravam), alguns párocos (tinham suas paróquias seculares esvaziadas), parlamentares da oposição.

 

Correspondências ð cartas trocadas com os que já haviam saído da Itália. Neste caso, as opiniões eram variadas.

 

 

A trajetória: condições de viagem

 

As primeiras providências tomadas pelos imigrantes eram: retirada de passaporte na Prefeitura; venda das posses (poucos possuíam terra), benfeitorias e móveis, animais e demais objetos que não podiam ser transportados; embalar as bagagens baús, caixas, sacos...; contratar uma carroça,; e carroceiro para transportar a mudança até a estação ferroviária mais próxima; viagem de trem até o porto de partida (o de Gênova, o mais movimentado do Mar Mediterrâneo).

 

Cardápio dos imigrantes durante a travessia: Xerox

 

O cardápio apresentava ausência de aminoácidos, presentes nas verduras.

 

O livro dispõe de depoimentos que relatam os acidentes ocorrido nas travessias: naufrágio devido a superlotação (lembrado na canção “Il Sírio), incêndios, mortes (sendo os corpos atirados ao mar). 

 

Eram comuns queixas de mau tratamento, falta de espaço e, perda de bagagens  nos vapores transatlântico. 

 

A chegada no Brasil e o destino ao Rio Grande do Sul

 

Durante a travessia marítima, o escorbuto (pelagra)  “crucificava e vitimava”, principalmente crianças. Na chegada, eram recepcionados na Ilha das Flores, onde ficavam sob quarentena a fim de que as autoridades competentes detectassem alguma doença contagiosa.

 

No Rio de Janeiro (a corte na época), embarcavam nos paquetes da Companhia Nacional, o Porto de Rio Grande e depois a Porto Alegre.  Esta condução, que durava em média 6 dias, eram feita em melhores condições que a travessia. Porém, era superlotada e não tinha acompanhamento médico. No Porto de Rio Grande e Porto Alegre (centro de convergência dos imigrantes no RS,  onde geralmente era feito a distribuição para as Colônias), os Agentes Oficiais de colonização, visitavam os navios para dirigir o desembarque e embarque para as localidades de destino, fiscalizar a alimentação, e efetivar pagamentos.

 

De Porto Alegre, seguiam para as colônias de : Conde d’Eu, D. Isabel, Caxias, Alfredo Chaves e, Silveira Martins.

 

Rio Grande

Porto Alegre

São Jerônimo

Gal. Câmara

Garibaldi

Bento Gonçalves

Caxias do Sul

Rio Pardo Cachoeira do Sul

D. Francisca

Faxinal do Soturno

Nova Palma

Ivorá

Silveira Martins

Santa Maria

 

 

Mudanças na Política Imigratória

 

O Parlamento,  de maioria latifundiário ruralista que temiam a abolição da escravatura, bloqueia a verba para imigração.  Isto gerou o “famoso calote governamental”, já aplicado em 15/12/1829 e em outras vezes, prejudicando a imigração para o Brasil aos olhos dos países europeus. Observe o decreto 7.750, de 20/12/1879, da Corte:

 

“...não sendo suficiente a verba consignada no orçamento para a Colonização, ficavam suspensos os favores do Decreto 3.784”.

 

A  partir deste momento ocorre a suspensão da IMIGRAÇÃO FINANCIADA, que oferecia os seguintes favores:

 

1)     Transporte da Europa para o Brasil e neste hospedagem e transporte até as colônias;

2)     Venda a vista ou a prazo do lote de terra;

3)     Derrubada da mata e casa provisória no lote, bem como instrumentos agrários e sementes;

4)     Subsídio de 20$000R$ em dinheiro ao imigrante maior de 10 e menor de 50 anos;

5)     Tratamento médico e botica (farmácia);

6)     Culto religioso e instrução escolar primária

 

A partir daí, deu-se início à IMIGRAÇÃO ESPONTÂNEA. Agora, só receberiam transporte dentro do país, e só poderiam comprar a prazo as terras cobertas de mato. Alguns imigrantes, encontravam apoio nos patrícios já instalados.

 

Com a proclamação da República, as terras devolutas passaram a pertencer e serem administradas pelos Estados.

 

 

 

Os primeiros tempos...

 

Os imigrantes vindos nos primeiros tempos eram abrigados em um Barracão.

Em italiano: descrição do barracão, a comida, e as mortandades.

 

Normas da designação de lote de terras:  Xerox

 

 

Origem histórica da 4ª Colônia

 

Segundo pesquisas, cerca de 20% da população dos municípios da 4ª Colônia têm sangue negro. Isto porque, a maioria vieram como escravos para as estâncias localizadas acima da Serra Geral.

 

O “tronco Padilha”, nas décadas de 1800 veio de São Paulo (que abrangia o Paraná), para se apropriar da gadaria que ficou das Reduções Jesuíticas e estabelecer fazendas para criação e mulas e gado na região do Planalto Gaúcho. Deram origem às atuais cidades de: Cruz Alta, São Martinho, Júlio de Castilhos, Passo Fundo, Vacaria, Palmeira das Missões, etc.

 

 

A Colônia Silveira Martins

 

Após a Guerra Franco-alemã, o Ministro  “Marechal de Ferro “ von Bismark”, cancelou o êxodo de seus patrícios. A solução para a empresa recrutadora de imigrantes Pinto Jr.  é buscar imigrantes na Itália.

 

Em 1877, Barracão de Val de Buia era passou a chamar-se Núcleo Colonial dos Russos Alemães. Este acampamento tinha acumulado aproximadamente 400 pessoas, acomodando quatro turmas. A primeira turma, ia rumo a Santa Maria. Antes da construção do Barracão, estes imigrantes eram acomodados na casa dos conterrâneos que haviam chegado antes. Porém com a chegada de mais duas turmas, construiu-se o Barracão.

 

As péssimas instalações do Barracão (superlotação); a escassez de alimentos; a insistência em trabalhar em terras planas e a recusa de trabalharem como assalariados; o abuso da cachaça oferecida por um proprietário de alambique,  dono das terras onde estava o Barracão; as doenças; aliado ao convite para as planícies argentinas “iguais a da “Santa Rússia”, fizeram com que abandonassem o barracão. O Governo tenta impedir que isto aconteça, cobrando as contas que deviam. Porém após negociações, foram encaminhados ao Paraná, de onde se retiraram ao terminar os favores dados pelo governo.

 

 A Colonização pelos italianos

 

A solução agora era povoar o núcleo abandonado com colonos italianos, que já vinham povoando rapidamente as três colônias do Nordeste.

 

Portanto, em 1878, as vantagens oferecidas pela Inspetoria de Terras e Colonização (sob patrocínio do Governo Imperial) e a empresa Carvalho Bastos & Vieira de Porto Alegre, eram: viagens, transporte, alimentação, remédios, acomodações, ferramentas, queixas, bagagens e correspondências dos imigrantes.

 

Foram construídos mais dois barracões anexos ao de Val de Buia. Em  maio de 1878, chegam as primeiras turmas de imigrantes italianos.

 

Na realidade, as condições do alojamento eram as mesmas dos russos-alemães, inclusive as mortes. Fala-se até 400 baixas.

 

Isto, somado  ao desmando e corrupção dos funcionários públicos leva a nova revolta. Porém, desta vez, os italianos.

 

O núcleo Colonial foi criado pelo engenheiro Greenhalgh.

 

Criação da 4ª Colônia

A   4ª Colônia foi Criada pelo Engenheiro José Thomé Salgado, na data de 19 de setembro de 1---, em ofício enviado à Inspetoria Especial De Terras e Colonização em Porto Alegre.

Os Diretores: Foram todos interinos

- Saldanha Marinho Filho (1878-1879)

- Luís José de Almeida Couto

- José Manuel da Siqueira Couto.

 

Em 1880, a Colônia começa a sofrer o impacto da suspensão da Imigração Financiada (Decreto 7.570, de 20/12/1879,  que suspende auxílios para imigração).

 

Mesmo assim, a imigração italiana continuava. Já em 1879, o Diretor da Colônia, lastimava a falta de território, e sugere ao Governo Geral, desapropriar terras improdutivas de particulares, cedidas pelo governo, consideradas os melhores locais para colonização.

 

Em 1881, começam os trabalhos destinados a emancipação da Colônia, por não ter mais área para se expandir. O responsável pela preparação para emancipação era o Eng. Siqueira Couto, nomeado ao Cargo de Diretor da Colônia. Ele continua lutando pelo apoio do governo geral para desapropriar terras particulares improdutivas para colonização dos italianos.

 

Em 19 de agosto de 1882, no Palácio do Rio de Janeiro é assinado o Decreto 8.644, que emancipa Silveira Martins do regime colonial, passando a ser chamado oficialmente como ex-colônia. Juridicamente, passa a ser o 5º Distrito de Santa Maria. É a primeira colônia imperial da Província a ser emancipada.

 

Mesmo com a emancipação da Colônia, continuou o fluxo de imigrantes voluntários na região. A solução: criou-se a Comissão de Medição de Lotes e Estabelecimento de Imigrantes, chefiada por Siqueira Couto.

 

Não podia contar com terras particulares circunstantes. Criam-se então, os núcleos em terras devolutas, situadas na margem direita do rio Jacuí, e à esquerda do Arroio Soturno, como facultava o Governo Central.

 

 

Núcleos da Ex-Colônia Silveira Martins

 

Núcleo Dona Francisca

Este Núcleo localizava-se próximo (“geograficamente anexa”)  a Colônia Silveira Martins. Concluiu-se a demarcação nesta área em 15 abril de 1883 e, a sua fundação  em 15 de agosto do mesmo ano.

 

O nome Dona Francisca, foi em homenagem a esposa do fundador Manoel José Mostardeiro.

 

Núcleo Norte Ivorá

Localizava-se 35 Km ao norte da Ex-Colônia,  dentro do município de São Martinho. Por isto o nome “Núcleo Norte”, atualmente Ivorá.

 

Núcleo Soturno Nova Palma

Localizava-se na margem direita do Rio Jacuí, nas últimas terras pertencentes ao governo da Província na região.

 

A distância e a dificuldade de comunicação com Soturno,  sede do Núcleo, levou a Comissão de Medição de Lotes criar um povoado em Geringonza, depois Novo Treviso.

 

Núcleo Toropy

Localizava-se na margem do Toropy, a 15 léguas da Ex-Colônia, próximo ao Rincão de São Pedro.  Comportou poucos imigrantes italianos, pois estas terras já estavam ocupadas por nacionais e  alguns imigrantes  alemães.

 

Núcleo Jaguari

Localiza-se no Vale do Jaguari.  Começou a receber antigos colonos de Silveira Martins após a desapropriação das terras sob posse de posseiros. Em 1890, na República, o Núcleo contava com 681 lotes de 25 ha cada. Não havia mais terras devolutas na região.

 

Núcleo Ijuí Grande

Estas  terras  são oferecidas pela Câmara de Cruz Alta ao presidente da Província. Foi fundada em 19/10/1890, com lotes rústicos e urbanos  entregues a  imigrantes da  Volínea (Ucrânia) e a imigrantes da ex-Colônia Silveira Martins.

 

 

 

Enxameamento

 

“é o termo Usado por Jean Roche para designar o deslocamento do meio rural para outro meio rural motivados pelo excesso de população e/ou esgotamento da terra.”

 

Etapas do Enxameamento na 4ª Colônia:

- A Acomodação Inicial: não chega a caracterizar um processo de enxameamento propriamente dito, mas sim de acomodações frente a determinadas situações geográficas (divisão de terras que não considerava a topografia e as condições básicas para assentamento)  ou sociais (não vocação para agricultura, razões afetivas, jovens que auxiliavam nas medições, coação no casos dos alemães que se sentiam incomodados entre a maioria italiana).

- Ocupação dos vazios intermediários: os vazios intermediários eram terras situadas próximo à 4ª Colônia pertencentes a particulares, que com o tempo foram sendo loteadas.

- Ocupação dos campos limítrofes: neste caso os colonos ocupavam terras particulares (pertencentes a fazendeiros que as adquiriram por concessão do Governo Imperial ou por direito de posse) situadas nos limites e nas proximidades. Vários foram os casos de proprietárias que em pouco tempo perderam tudo, ficando na absoluta miséria.

 

Razões do enxamentamento:

- Aumento populacional;

- Criação das estradas de ferro, entre elas: Colônia da Província São Leopoldo  e Porto Alegre; Porto Alegre e Uruguaiana que atingiu as cidades de Cachoeira, Santa Maria e Cacequi; o “tronco Norte”, que atingiu Cruz Alta, Passo Fundo e Erechim, e um ramal que uniu Cruz Alta a Ijuí, Santo Ângelo e Santa Rosa;

- Colônias particulares, como por exemplo: Colônia Alto Jacuí, Visconde de Rio Branco, Grande Erexim, Guarita.

 

Dentro do Estado o enxamento da 4ª Colônia atingiu ainda: A Grande Santa Rosa (Colônia criada pelo Estado em 1915 no então município de Santo Ângelo); Colônia São Bento (ex-Novo São Paulo, atual Sobradinho); Colônia Cerro Cadeado (atual Augusto Pestana); Fortaleza dos Valos (município de Cruz Alta).

 

O enxameaento da 4ªColônia Imperial, ocorre também em escala nacional. Começou por Santa Catarina e Paraná e mais tarde nos anos 50 se alastra para Mato Grosso, Goiás, Bahia, Amazônia, e assim por diante.

A fase mais recente de enxameamento da 4ª Colônia é a adesão ao Movimento sem Terra.

 

SPONCHIADO, Breno Antonio. Imigração & 4ª Colônia: Nova Palma & Pe. Luizinho. Santa Maria : Universidade Federal de Santa Maria, Pró Reitoria de Extensão, 1996.

 

 

 

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